O Estado da Paraíba já não é o mesmo, quem não se recorda da bravura das mulheres decantada em prosa e versos. E já foi até mesmo musicada tendo como um dos refrãos, que ficou gravada na mente e coração de todos os brasileiros: “Paraíba mulher macho sim, senhor”. Ao que parece tal afirmativa ficou em passado longínquo, é um pálido reflexo que não se aplica a realidade atual. O integrante da equipe de transição, Julian Lemos (PSL) recém-anunciada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro já foi acusado três vezes e preso com base na Lei Maria da Penha, após denúncia de agressão à ex-esposa e a uma irmã.
O mais hilário, se não fosse trágico, é que se comenta nos bastidores local que após as agressões ele professava a seguinte frase: “não sei porquê estou batendo, mas elas sabem porque estão apanhando”. O deputado e amigo de primeira hora do Bozo, foi um dos coordenadores no Nordeste da campanha presidencial do PSL. Ele também foi condenado a um ano de prisão em primeira instância, em 2011, por estelionato. Mas o caso prescreveu antes de ser analisado pela segunda instância.
Segundo consta, em divulgações feitas por alguns segmentos da imprensa, dos três inquéritos de que o deputado eleito era alvo com base na Lei Maria da Penha, dois foram arquivados após a ex-esposa, Ravena Coura, apresentar retratação e narrou às autoridades que se exaltou “nas palavras e falado além do ocorrido”. Um terceiro, porém, segundo registros do Tribunal de Justiça da Paraíba, continua ativo. Os casos ocorreram em 2013 e 2016.
Na sua primeira aventura na “honorável prática” o deputado chegou a ser preso em flagrante depois de ter sido denunciado por Ravena, que contou ter sido agredida fisicamente e ameaçada por arma de fogo. Em 2016, ela voltou a procurar a polícia para registrar queixa contra o ex-marido, alegando que ele era “uma pessoa muito violenta” e que havia ameaçado ao proferir a seguinte frase: “Vou acabar com você, você não passa de hoje”.
Dando prosseguimento em sua acusação de agressão praticada pelo seu marido, Ravena, após seis meses entregou documento à Justiça afirmando que os dois episódios foram uma “desavença banal”, que o ex-marido era “um homem íntegro, honesto, trabalhador e cumpridor de todas as obrigações” e que ela o havia perdoado.
De acordo com a esposa surrada, com relação ao processo movido pela irmã não foi arquivado porque ela mora no exterior e ainda não compareceu para desistir oficialmente da ação.
Bolsonaro, como já era esperado, saiu em defesa de seu amigo ao sentenciar a seguinte pérola: que vários de seus aliados “deram suas caneladas, como o Julian Lemos aqui, e são pessoas que somam o nosso exército”. No tocante ao terceiro inquérito, que continua ativo, foi aberto em 2016, a pedido de Kamila Lemos, irmã de Julian. Que em depoimento prestado à polícia diz ter sido ofendida e agredida fisicamente pelo irmão, com murros e empurrões, ao tentar “apaziguar” uma briga entre ele e a ex-esposa. Laudo do Instituto Médico Legal comprovou que ela apresentava escoriações no pescoço, no ombro e no braço.
Outra patuscada, apresentada pelo deputado, partiu do presidente do PSL na Paraíba, em que aponta o envolvimento do indigitado deputado Julian no uso de uma certidão falsa fornecida pela empresa GAT Segurança e Vigilância, da qual era sócio, na assinatura de um contrato para prestação de serviços à Secretaria de Educação e Cultura da Paraíba, em 2004.
Mesmo diante desta ampla ficha criminal, ele em 2011 ele foi condenado a um ano de prisão em regime aberto. O mais curioso é que o crime prescreveu antes da análise em segunda instância. O que fica evidenciado é que a impunidade é um câncer que corrói o Brasil. Enquanto a justiça por aqui não deixar de ser uma peça de autoritarismo da sociedade, a impunidade continuará a imperar entre nós.
Sérgio Jones, jornalista (sergiojones@live.com)